Leio no Globo on-line que Norma Bengell passa por um momento muito difícil. Aos 76 anos, presa numa cadeira de rodas desde que uma queda acidental obrigou-a a uma cirurgia na coluna, ela está sem trabalho e sem dinheiro.
Com as contas bancárias e bens bloqueados por causa dos rolos envolvendo o financiamento de seu filme O Guarani (1996), Norma espera receber da União uma indenização pelo fato de ter sido presa na época da ditadura militar. Parece que o dinheiro vai sair em 60 dias, de acordo com a matéria. Ela tenta também viabilizar seu próximo filme, um média-metragem sobre o cartunista J. Carlos.
Não há muito o que dizer a respeito sem cair no melodrama ou no sensacionalismo. Tomara que ela consiga fazer seu filme, receber a indenização da União, voltar a andar, voltar a brilhar.
Quanto a nós, que a admiramos sobretudo como atriz (os longas de ficção que dirigiu, Pagu e O Guarani, são bem fracos), só resta lembrar e celebrar seus grandes momentos nas telas.
Aqui vão dois desses momentos, ambos cruciais não apenas para a carreira dela, mas para todo o cinema brasileiro.
O primeiro é o início da célebre sequência de Os cafajestes (Ruy Guerra, 1962) que seria o primeiro nu frontal do cinema nacional:
O segundo é uma condensação de passagens de Noite vazia (Walter Hugo Khouri, 1964), em que ela contracena com a não menos bela Odete Lara e com Mario Benvenutti e Gabriele Tinti. Este último, nascido na Itália, foi marido de Norma por algum tempo.
Bom proveito.
abril 6, 2011 às 21:13 |
Minha mãe viu agora a cena de “Os Cafajestes” e me conta q qdo ela foi com um grupo de amigas ao Cine Candelária, lá em BH para assisti-lo, ficaram sabendo q o filme havia sido proibido de ser exibido. Seu blog é informação e formação, um momento delicioso, onde aprendo sempre. Obrigada pala sua generosidade e sensibilidade partilhados aqui. Beijo grande Zé .
abril 6, 2011 às 22:14 |
que legal essa lembrança da sua mãe, adriana. sou eu que tenho de agradecer a gentileza da sua leitura. beijo grande, volte sempre.
abril 7, 2011 às 02:07 |
W.H. Khoury está entre as coisas que mais gosto no cinema; e rever esses excertos, bem como a cena antológica de Os cafajestes, imenso prazer! Norma Bengell é ótima atora; talvez seja exagero meu dizer que a Liz Taylor não faz a unha dela (risos), mas Norma é de uma geração de atores e atrizes excepcionais, uma época que não vivi, mas a impressão dos tapes me dá essa certeza. Abraços!
abril 7, 2011 às 11:11 |
caro andré: obrigado pela visita e pelos comentários. de fato, a norma é uma grande atriz, além de uma mulher deslumbrante. grande abraço, volte sempre.
abril 7, 2011 às 02:09 |
(Risos prévios) Zé, não me pergunte donde saiu esse “atora” – espero que da embriaguez da noite, Noite Vazia aqui em Bauru hehehe. Sim, Norma era ótima Atora, e é claro, ótima Atriz também.
abril 7, 2011 às 11:11 |
relaxa. todos cometemos esses deslizes de quando em quando. abração.
abril 7, 2011 às 08:59 |
Norma Bengell fez muitos filmes artisticamente importantes, mas será sempre lembrada pela sua participação hilária em O Homem do Sputinik, parodiando Brigitte Bardot (sendo, aliás, fisicamente dotada de melhores atributos que Brigitte). Infelizmente o estado em que está tem uma principal responsável: ela mesma. Ao contrário de seus amigos cineastas homens, o golpe do cinema, para ela, não deu certo. Suas contas não fecharam e não poderiam fechar de jeito nenhum. Isso aconteceu com outros filmes de outros cineastas em outros tempos (melhor não citar nomes desses que, como ela, utilizaram o dinheiro para fazer cinema na compra de casas e apartamentos), mas boas relações políticas e o velho espírito corporativo machista encontraram em cristo da vez: Norma. Ela serviria como paradigma da moralidade do financiamento do cinema via recursos públicos (próprios ou por renúncia fiscal).
Quanto à indenização… bem, essa matéria é controversa. Alguns, como Ziraldo, as receberam de maneira bastante contestada. Muitos tiveram como maior consequência do exílio ou perseguição política em terras brasileiras a fama adquirida, mesmo depois de alguns percalços financeiros. Decerto, grande parte sofreu muito, familias se destroçaram após desaparecimentos de pater familias ou filhas queridas, o horror patrocinado pela ditadura. Mas casos como os Ziraldo e Norma não sçao os mais merecedores da, em outros casos, também muitos, justíssima indenização.
Penso que ela mereça uma aposentadoria digna, mas muitos brasileiros também o merecem e não tem. O caso dela, só por se tratar de uma atriz de relevo, merece maior acolhida do que a de tantos anônimos trabalhadores esquecidos? Não será seu destino a Casa dos Artistas, lar de tantos de menor ou nenhum renome, mas que, igualmente, fizeram arte no Brasil?
É hora da própria classe se manifestar quanto ao destino de Norma Bengell. Lamentamos seus sofrimentos, mas não esqueçamos suas responsabilidades.
abril 7, 2011 às 11:15 |
rachel: é possível que você tenha razão na maior parte dos pontos (tanto sobre o tema das contas que não batem como sobre a questão das indenizações por conta da ditadura), mas não tenho tantas certezas e evito entrar nessas searas. evito sobretudo julgar quem quer que seja. o interesse deste blog é discutir cinema, exaltar o bom cinema, celebrar aqueles que o enriqueceram de alguma maneira. norma bengell certamente se inclui aí. abraços, volte sempre.
abril 7, 2011 às 11:43
Entendo, Zé, mas seu texto dá um pouquinho de margem para se meter em outras searas. De qualquer maneira, iniciei o comentário anterior falando só de cinema… mas foi irresistível, embora eu também não tenha tantas certezas assim, só algumas acerca de umas tantas malversações – o que, de fato, não é assunto para o blog. Mil desculpas!
abril 7, 2011 às 13:24 |
não há do que se desculpar, rachel. eu também não quis dar um tom de admoestação à minha resposta. só jusitifiquei por que não entrei na discussão do mérito das queixas e reivindicações da norma. abração.
abril 7, 2011 às 12:06 |
Bela homenagem à Norma. Também espero que ela se recupere em todos os sentidos. Zé, não sei se já lhe disse, mas devo a você o meu interesse pelo cinema nacional. Um exemplo: seu texto me levou a procurar, na minha baderna, os dois filmes citados. Só espero que o videocassete ainda esteja funcionando. bj
abril 7, 2011 às 13:23 |
maria querida: tomara que o videocassete funcione. se não funcionar, vale procurar os filmes numa locadora. acho que estão disponíveis em dvd. beijo, obrigado pela visita.
abril 7, 2011 às 19:38 |
Que bom ver essas cenas de Norma Bengell, Zé. Que mulher e que cenas! E como é bom poder te acompanhar no blog. Eu sempre acessava a internet para ver seus comentários na Folha, sobre cinema e sobre futebol. E tenho visto vez em quando suas dicas na Carta Capital. Continue nos apresentando com sua simplicidade e sensibilidade!
Laurenio
abril 7, 2011 às 19:45 |
caro laurenio: um comentário como o seu é um estímulo enorme ao meu trabalho. muito obrigado. e a norma é mesmo o máximo. abração, volte sempre.
abril 8, 2011 às 13:30 |
Que triste saber da situação da grande Norma! Espero que tudo dê certo para ela. Além de grande atriz,mulher lindíssima e muito corajosa,por estrear filmes numa época em que o preconceito era muito maior do que é agora! Que Deus dê a ela muita saude e garra que sempre foi sua marca registrada!!!Um grande beijo
abril 8, 2011 às 19:56 |
assino embaixo, sandra. obrigado pela visita e pelo comentário. beijo, volte sempre.
abril 27, 2011 às 20:24 |
tudo emperra nesse país. tantos anos dessa confusão de o guarani e tudo parado. beijos, pedrita
abril 27, 2011 às 20:47 |
sim, pedrita. e tem o caso “chatô” também, que se arrasta há décadas. beijo, volte sempre.